A Amazônia é uma imensidão e possui dentro de si uma grande variedade de biodiversidades e ambientes. Quando se sobrevoa a região o que mais se pode ver é a confusão que se dá entre dois ambientes específicos, as campinas e as campinaranas. As duas juntas estão numa área que tem em torno de 30 mil km2.
Não é somente no nome que esses dois ambientes se parecem, de longe os dois podem ter formas semelhantes se confundindo até mesmo nos mapas do Instituto Brasileiros de Geografia e Estatística (IBGE). Quando se observa de perto é possível perceber algumas boas diferenças entre os dois tipos.
Campinas e Campinaranas
As campinas tem uma certa semelhança com o fundo do mar e suas plantas lembram aquelas das restingas. Em comparação as campinaramas são diferentes por apresentarem plantas de espécies mais altas com uma grande variedade de epífitas (tipos de plantas que sobrevivem em cima de outras plantas).
O solo das campinaramas é coberto por serrapilheira, basicamente esse ambiente se parece bem mais com as florestas do que propriamente com as campinas. Uma curiosidade interessante é que dentre as plantas presentes nessa região está a Coccoloba que é um gênero que conta com a maior folha do mundo dentre as plantas dicotiledôneas.
A Origem das Campinas na Amazônia
Existem duas explicações plausíveis para o aparecimento das campinas na Amazônia. Uma das explicações é a de que elas são o resultado de incêndios na floresta, essa teoria é reforçada pela presença de espécies que tem como característica a capacidade de ressurgir mesmo depois do fogo.
A outra teoria nos remete ao desaparecimento de um lago bem grande de água salgada que existia na região há alguns milhões de anos, um período tão remoto que não existia bem mesmo a Cordilheira dos Andes. As últimas áreas que secaram teriam dado origem as campinas que conhecemos hoje em dia. O que reforça essa teoria é o fato de que mesmo nas regiões mais elevadas as campinas se encontram em depressões que estão cercadas pelas campinaranas.
Diferenças de Paisagens
Os especialistas acreditam que as principais diferenças que existem entre as campinas amazônicas e as campinaranas se deve a profundidade do lençol freático. Na campina amazônica a água fica entre 1 e 3 metros abaixo da terra, já no caso das campinaranas fica a até 7 metros de profundidade.
Como a água funciona como um limitador de crescimento das raízes e das plantas as espécies que fazem parte das campinas são menores. As duas paisagens começaram a ser confundidas no início do século XX, pois foi nesse período que as campinas começaram a ser descritas como caatinga-igapó.
Durante a década de 60 essas paisagens foram chamadas de caatinga do Rio Negro por Willian A Rodrigues. Vale ressaltar que a cheia dos rios transforma a paisagem a sua volta, pois quando os rios estão cheios é possível encontrar igapós. Entretanto, nos mesmos lugares, mas nas vazante se pode observar campinas e campinaranas.
A Singularidade das Campinas Amazônicas
As campinas são paisagens bastante singulares e dificilmente as espécies que são encontradas nelas podem ser vistas em outras paisagens da Amazônia. Para se ter uma ideia apenas 17% das espécies de plantas que são encontradas nas campinas podem ser encontradas também nas campinaranas.
E menos de 4% dessas espécies existem também nas florestas de terra firme. Já as campinaranas e as florestas que estão presentes em terra têm em comum cerca de 30% das espécies. Os três ambientes contam com espécies bastante raras sendo ricos botanicamente falando.
As Espécies Únicas das Campinas Amazônicas
As campinas amazônicas podem ser encontradas nos estados do Acre, Amazonas, Roraima, Pará e Amapá. Já foram registradas 252 espécies diferenciadas dentre as quais estão arbustos que tem mais de 5 cm de tronco e no total mais de 1,3 de altura. Num único ponto de campinas são encontradas uma grande variedade de famílias de plantas.
Mesmo tendo uma longa distância entre os locais em que as campinas acontecem existem semelhanças entre os ambientes. Uma dessas semelhanças mais significativas é que duas espécies de plantas dominam duas regiões que são opostas no mapa, estamos falando sobre a Pagamea guianensis e a Humiria balsamifera.
Essas duas espécies podem ser encontradas tanto em Cantá (RR), que fica ao norte da Amazônia assim como na Serra do Cachimbo (PA) que fica ao sul. Também existem semelhanças entre espécies que são encontradas em Cruzeiro do Sul (AC) com espécies que estão presentes nas margens do Rio Negro. Uma dessas espécies é a Laden bergia amazonensis que faz parte da família do café (rubinae). Outra espécie parece da castanheira (Lecythidaceae).
Ameaças as Campinas Amazônicas
Os mapas do IBGE apresentam campinas e campinaranas apenas na região do Rio Negro e no município de São Paulo de Olivença, no Rio Solimões, contudo estudos empreendidos por botânicos demonstram que existem campinas em todas as direções da Amazônia.
Por exemplo, é possível encontrar essas paisagens na Amazônia Oriental em que a transição das campinas para as florestas acontece através da campinarana. Já nas regiões ocidente e sul da Amazônica é possível encontrar campinas do lado do cerrado. O que realmente preocupa em relação a essas paisagens é que além de raras e não reconhecidas em boa parte também enfrentam muitas ameaças.
Tanto as campinas como as campinaranas enfrentam a ameaça de desaparecer. Um exemplo claro disso são as paisagens próximas a cidade de Manaus, AM, que estão sumindo devido ao crescimento muito acelerado da cidade. A construção civil tem crescido muito no Brasil nos últimos anos e uma das principais fornecedoras de areia é a Manaus.
Sem Proteção
As campinas amazônicas, em grande parte, não tem proteção da lei com exceções da Serra do Aracá no Amazonas e do Parque Nacional do Viruá, em Roraima. Na cidade de Humaitá (AM) é um exemplo de destruição das campinas amazônicas que foram devastadas para a dar espaço a produção de grãos. O que traz algum conforto para os ambientalistas é que boa parte das espécies que fazem parte das campinas são bastante resistentes inclusive ao fogo.