O Bioma Cerrado
O Bioma Cerrado é um dos mais ricos em biodiversidade do mundo, para se ter uma ideia ele apresenta cerca de 11.046 espécies de plantas, vale ressaltar que mais ou menos 40% dessas espécies existem apenas nesse bioma.
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Um bioma como o cerrado é fascinante não somente pelo que pode oferecer aos olhos, mas também pelo fato de que suas plantas podem ser a resposta para questões dos seres humanos.
As Plantas do Cerrado Como Fonte de Renda
A Embrapa Cerrados juntamente com alguns parceiros vem identificando um grupo de plantas que possui diferentes possibilidades de uso. Dentre esses usos estão o alimentar, forrageiro, medicinal, artesanal, madeireiro, condimentar, ornamental, oleaginoso dentre outros. Algumas dessas plantas representam em algumas regiões a base de sustente de muitas famílias.
Espécies como a gueroba, o pequi, a mangaba, o baru, a arnica, a faveira, a mama-cadela, o pacari, o murici dentre outras são bastante utilizadas pelas comunidades locais que geram renda com um impacto bem pequeno ao bioma cerrado. Porém, visto que toda a matéria-prima é retirada da natureza é natural que algumas espécies estejam desaparecendo de regiões em que antes eram fartamente encontradas.
O Extrativismo
Geralmente o uso econômico das plantas nativas pelas populações locais acontece por meio do extrativismo. O extrativismo basicamente engloba todas as atividades de coleta e extração de produtos naturais (sejam eles de origem vegetal, animal ou mineral) de locais em que ocorrem naturalmente. Essa retirada dos produtos é feita para a posterior produção de bens.
Quando numa coleta extrativa a velocidade de extração é igual a velocidade de recuperação o ambiente permanece em equilíbrio. Porém, quando a extração não respeita a quantidade necessária para a reprodução da espécie o ambiente entra em desiquilíbrio.
Se uma planta é fortemente explorada acaba que sobram poucos indivíduos da mesma bem como poucos frutos sadios. Assim a espécie encontra dificuldades para que possa perpetuar-se. Se o extrativismo é mal conduzido pode ser extremamente negativo para a natureza e manutenção da biodiversidade.
Vale destacar que o poder arrasador de um extrativismo inconsequente é equivalente ao de qualquer outro tipo de manejo agrícola ou pecuário que também fosse mal conduzido. Pode-se gerar a escassez dos recursos naturais.
O Extrativismo Sustentável
O extrativismo sustentável tem como principal diferença do extrativismo predatório o fato de não destruir as fontes de renovação do recurso natural explorado garantindo que sejam mantidos os processos ecológicos. Já o extrativismo predatório causa severos danos ao recurso natural explorado e reduz a sua capacidade de sobrevivência desse sistema natural.
Extrativismo Consciente
Quando se depende de algum recurso natural é muito importante que tenhamos bem claro qual é a capacidade de carga do ambiente. Um exemplo bem simples disso é perceber que a coleta de frutos é uma atividade essencialmente extrativista e acontece muito no Cerrado garantindo o sustento de muitas famílias.
Porém, ao mesmo tempo precisamos nos lembrar que esses mesmo frutos são o alimento para os animais silvestres que ajudam a propagar naturalmente a espécie no ambiente. Se não houverem frutos no ambiente esses animais silvestres acabarão morrendo de fome e as sementes desses não serão propagadas não garantindo uma renovação da planta.
Quando observamos o extrativismo sob esse ponto de vista percebemos como é importante e urgente o desenvolvimento de técnicas e procedimentos que permitam que seja feita uma exploração programada da espécie.
O uso sustentável é altamente recomendável, pois ajuda a prever o planejamento das operações numa determinada área e assim contribui para a perenidade dos recursos naturais.
A definição de uso sustentável pode ser observado através do Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza (SNUC) (Lei no. 9.985, de 18 de julho de 2000 e Decreto no. 4.340, de 22 de agosto de 2002):
“a exploração do ambiente de maneira a garantir a perenidade dos recursos ambientais renováveis e dos processos ecológicos, mantendo a biodiversidade e os demais atributos ecológicos, de forma socialmente justa e economicamente viável”.
Como Deve Ser o Extrativismo no Cerrado
As ações de manejo e o uso consciente de recursos naturais devem prever um planejamento estratégico para que seja definida a área a ser trabalhada. Isso inclui ter um cronograma para o tempo de colheita, a oferta de produtos, a localização bem como os seus preços de mercado e o curto da matéria-prima. Tudo isso deve ainda ser unido a uma avaliação dos efeitos da exploração das plantas sobre as relações ecológicas de cada espécie e ainda a sua regeneração natural.
É extremamente necessário que exista um planejamento a respeito do manejo e uso dos recursos naturais. Quando fazemos uma rápida avaliação do estado da biodiversidade no cerrado nos damos conta que não está sendo realizado um extrativismo consciente e que isso pode acarretar no desaparecimento de inúmeras espécies.
Toda e qualquer prática que seja de exploração de recursos naturais precisa de um planejamento adequado a dinâmica da natureza, pois os recursos podem acabar por se esgotar. Sendo assim um planejamento adequado das áreas de desenvolvimento econômico devem ser considerado como uma ação prioritária.
Assegurar a proteção dos recursos naturais, o equilíbrio do meio ambiente e a manutenção da biodiversidade é o mínimo que se pode fazer para contribuir para que as espécies do bioma cerrado não desapareçam e continuem gerando renda para inúmeras famílias.
Utilizar e manejar os recursos naturais de forma racional é uma forma de garantir que exista uma continuidade da produção bem como a possibilidade de continuar realizando um trabalho com boa rentabilidade.
A preservação dos recursos naturais é necessária não somente para que a biodiversidade do bioma cerrada não desapareça, mas também para que seja possível a continuação do extrativismo.
Se pensarmos de forma lógica logo entenderemos que se uma determinada espécie desaparece com ela desaparecem também o trabalho de quem vivia da sua extração e transformação num bem. A atividade extrativista por si só não é o problema, a grande questão está em saber diferenciar a extração predatória da sustentável.
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O cerrado conta com uma grande variedade de espécies e precisa continuar assim, pois senão deixará de ter todo o seu encanto.