Sambaquis: Uma Montanha Que Conta História

O Que São Sambaquis?

Ás vezes estamos observando a natureza e olhamos uma formação rochosa interessante, mas nem imaginamos que não é exatamente uma formação natural. Os Sambaquis (do tupi tamba’kï; literalmente “monte de conchas”) são depósitos, construídos pelo homem, de material orgânico, calcário e outros que com o passar do tempo sofreram a ação de intempérie e acabaram passando pelo processo de fossilização.

Dentre outros nomes que os Sambaquis recebem estão concheiros, berbigueiros, casqueiros e até mesmo em inglês shell-mounds. Esse acúmulo de material vai sofrendo uma ação química que transforma tudo numa única massa. A chuva deforma as estruturas dos moluscos e dos ossos que estão formando os Sambaquis e isso petrifica toda a estrutura.

Os Sambaquis são bastante encontrados no litoral Atlântico e são bem raros no Pacífico. Porém, é possível conferir alguns espécimes de Sambaquis até no norte da Europa. O formato dos Sambaquis varia do cônico ao semiesférico, em geral a altura pode ser de menos de 1 metro até mais de 15 metros.

Um tipo de formação que pode se estender por áreas bem longas no que diz respeito a comprimento.

Os Sambaquis no Brasil

O Brasil tem Sambaquis distribuídos ao longo de toda a sua costa, um elemento que chamou muito a atenção dos europeus no começo da colonização. A partir da observação que os europeus realizaram durante a colonização chegaram a conclusão de que essas formações eram obra dos diferentes hábitos culturais dos povos indígenas.

Alguns estudos recentes sugerem que os Sambaquis da costa brasileira foram produzidas por povos que viveram na região entre 8 mil e 2mil anos atrás. No início do século XIX os Sambaquis foram visitados pelo Imperador D. Pedro II que era um exímio minimalista. O Imperador se encantou pelos monumentos pré-históricos da costa.

Já no século XX os Sambaquis se tornaram tema de estudo pela Universidade de São Paulo e chamaram a atenção de Paul Rivet, conhecido por muitos como o “pai” da moderna Antropologia americana. Já no litoral sul essas formações foram estudadas pelo arqueólogo João Alfredo Rohr.

Os Principais Sambaquis do Brasil

Atualmente, os principais sítios de estudo de Sambaquis estão localizados no litoral sul do estado de Santa Catarina. As cidades de Jaguaruna e Laguna contam com 42 Sambaquis de vários tamanhos. Dentre eles estão Garopaba do Sul e o Jaboticabeira e Figueirinha I e II em Jaguaruna.

De acordo com análises feitas de camadas intermediárias do Figueirinha I por um laboratório americano chegou-se a conclusão que em torno de 2510 a.C ele já tinha pelo menos 2/3 do seu tamanho atual. Sendo assim chegou-se a conclusão de que a maior das pirâmides do Complexo de Gizé, Kufu, foi construída cerca de apenas 40 anos antes.

As Características dos Sambaquis

Os Sambaquis são encontrados com mais facilidade nas regiões costeiras e de recorte acentuado como baías, restingas, enseadas, ilhas próximas a costa ou mesmo em estuários. O litoral catarinense e paulista contam com muitas dessas formações interessantes e instigantes.

Como essas áreas eram em geral fonte fácil e abundante de calcário para a construção se tornaram base para as povoações iniciadas pelos europeus. Isso colaborou para a destruição de muitos desses sítios arqueológicos.

Os Povos Que Formaram os Sambaquis

Os grupos que foram responsáveis pela construção dos Sambaquis se alimentavam de frutos silvestres, moluscos, pequenos animais entre outros alimentos. As análises químicas que foram feitas revelaram que a dieta desses grupos também era bastante rica em peixes e por isso mesmo é possível levantar a hipótese de que eles eram pescadores-coletores e que tinham uma vida sedentária.

Um dos costumes que esse povo tinha com certeza era o de acumular os restos de comida e usar como adornos no corpo e também nas moradias. Um outro hábito que eles tinham era o de fazer os sepultamentos no próprio Sambaqui, com o passar do tempo o terreno era aplainado e rearrumada a camada de cima do monte.

Diversas atividades do dia a dia desse povo eram feitas longe do lugar em que eles moravam. Além disso, podemos subentender que esse povo fabricava os seus próprios objetos. Foram encontrados raspadores de conchas e facas de pedra nos Sambaquis. Outros materiais utilizados eram madeira, fibra e couro.

Foram encontrados vestígios de batedores, suportes de pedra, lasquinhas e outras evidências que sugerem trabalho de fabricação dos objetos de uso próprio. Também foram encontrados restos de fogueira o que sugere que esse povo e formou os Sambaquis tinha o hábito de preparar os seus alimentos aquecendo-os.

Os mortos eram enfeitados com os objetos que conseguiam resistir ao tempo, é muito comum encontrar esqueletos com adornos de dentes e vértebras de animais como macacos, tubarões, porcos-do-mato e outros. Também foram encontrados outros objetos como pontas de osso, lâminas de machado e outros junto aos mortos.

O enterro das pessoas era uma atividade que exigia bastante cuidado e preparação, pois era necessário preparar a cova, em geral forrando-a com argila, areia, corantes, madeira e dentre outros cuidados. É bem provável que os moradores da região tivessem perto do local em que moravam o material necessário para os seus artefatos.

Dentre os principais materiais se destacavam ossos de animais, quartzo, conchas, gnaisse e outros. A observação do que restou dos povos que formaram os Sambaquis permite chegar a conclusão de que dentre tudo o que era feito por eles somente as esculturas esmeradamente polidas realmente exigiram um trabalho intenso.

A Curiosa Composição dos Sambaquis

Os Sambaquis podem ser definidos como montanhas que tem história. Um local que guarda vestígios arqueológicos de 6 500 anos. Podemos conhecer um pouco mais sobre a vida de alguns povos antigos pela composição dessas montanhas construídas com a ação do homem.

Conchas – Sambaqui

Cáries

Através dos restos mortais encontrados em meio aos Sambaquis foi possível identificar um problema curioso, os sambaquieiros tinha cáries. Acredita-se que as cáries sejam resultado do consumo excessivo de mandioca.

Adubo Orgânico

O adubo é muito importante para o crescimento de plantas, os Sambaquis que o digam. Hoje em dia é possível ver grande parte dessas montanhas coberta por uma camada de plantas, isso porque o cálcio das conchas enterradas há milhares de anos serve como um nutriente para o crescimento de vegetais.